Feeds:
Artigos
Comentários

Archive for the ‘Ambiente’ Category

A extinção das espécies

Na década de quarenta do século passado, proibiu-se o pastoreio dos gados nos montes, por via dos estragos que faziam nas carquejas e nos jovens pinheiros. Pela mesma altura, José Crespo e Manuel Sá, foram capturar ao rio Cabrão, Douradinhas que vieram lançar, no rio Amial que, no passado, fora viveiro de grandes e bonitos peixes.

Estas memórias, foram-nos legadas por António Domingues de Sá, e fazem-nos reflectir sobre a influência que o Homem exerce sobre o meio ambiente, tão mal tratado, que apenas o milagre da natureza, possibilita a teimosa sobrevivência das espécies, à fúria destruidora que parece animar os humanos.

Por estas bandas, muitas espécies se extinguiram e muitas outras estão em vias de tal. A poluição, os químicos agro-pecuários, insecticidas, uma certa casta de caçadores e outros factores, vão-nos privando da companhia de aves, peixes e, de muitos dos animais selvagens que por aqui habitaram.

Em boa verdade, o tempo tudo muda. Em cerca de sessenta anos, as carquejas e os pinheiros que cada proprietário defendia com unhas e dentes, deixaram de ter qualquer importância ou utilidade. Os matos cresceram de tal forma que inviabilizam até, a localização dos marcos que demarcam cada prédio. Os rios de Cabrão, e do Amial, são hoje regatos que apenas tem água nos meses chuvosos.

As andorinhas que na minha infância pejavam os fios eléctricos desta aldeia, são hoje poucas, muito poucas, diria mesmo que começam a rarear. Talvez que a falta de insectos, vítimas dos insecticidas, dos quais se alimentam, seja o motivo que as leva a outras paragens. Há dois anos, um casal fez o ninho no beiral da minha casa. Creio que procriaram por duas vezes, nesse ano. Voltaram, este ano ao ninho, que tive o cuidado de manter, e por cá estão. Não me apercebi de que tenham procriado mas, talvez sim.

Os rouxinóis que por aqui havia, há muito que se extinguiram. Pintassilgos, Cartaxinhos e Piscos raramente se vêm, vítimas dos motivos já referidos. O Homem vai ficando só. Olhamos à nossa volta, e apenas vemos o lixo que o progresso produz, numa sociedade sem valores, desumanizada, egoísta e perversa.

Aqui pela minha aldeia, um grupo de caçadores, disfarçados de ambientalistas, constituiu-se em associação e, de conluio com outros de Fermelã, pretendem adquirir a exclusividade da matança, nos terrenos destas freguesias. Não contestando o direito de caçar previsto na lei, lamento que efectivamente, dado a raridade crescente das espécies, em lugar de nos preocupar-mos com a preservação e reprodução das ameaçadas de extinção – e por aqui são praticamente todas – recorramos a esquemas que nos permitam sermos nós a matar, no caso os referidos, os sobreviventes desta guerra que os homens declararam aos animais.

É triste e lamentável que a evolução, ainda não tenha produzido nos humanos, a inteligência necessária para que estes saibam respeitar, o planeta e, os que com eles convivem.

Parafraseando Sérgio Godinho, “flor de Junho dá fruto, homem sozinho é que não”.

Read Full Post »